quarta-feira, 18 de junho de 2008
Quando Estala o Verniz
Ora cá estou eu de novo, desta vez sentado na minha sala a ver uma treta qualquer sobre vampiros e a relembrar, a rir baixinho, uma das frases mais verdadeiras ao longo da vida : " Quando Estala o Verniz ".
Eu adoro ver vernizes estalados, e vocês não ? Uma das manifestações mais óbvias deste fenómeno é sem dúvida na festa das festas: O casamento de alguém. Eu regra geral não gosto muito destes eventos. Muito protocolares e apesar da abundância de géneros e variedade alimentar, regra geral acabo por chegar a casa e fazer uma refeição mais potente. Mas felizmente parece-me que sou dos únicos a reagir desta forma! Ou seja, eu como não uso verniz, este não estala. Mas eu adoro ( e é este o ponto realmente positivo dos casamentos) chegar a um dia destes como convidado. Vestir o meu fatinho quente e desconfortável (só porque parece bem), e aguentar um dia inteiro e parte da noite em pé, não sem antes ter estado sentado com pessoas que não conheço de lado nenhum, e depois a ouvir aquelas pérolas populares....oi? Eu falei em pérolas populares ? Ehhhlá....parece que estamos a chegar ao ponto em que o verniz estala... Ou já pensavam que me tinha esquecido ?
De facto, se no próximo casamento a que forem acompanharem um convidado ou dois com mais atenção vão ver aquela camada de boa aparência a desaparecer de um segundo para o outro! Passo a descrever....
Cedo, quando chegamos à casa de quem nos convidou, já lá estarão algumas pessoas de certo. Famílias, casais, gente mais nova (e esta parte nunca entendi...eu quando era miúdo os meus pais faziam-me vestir fatiotas envernizadas e sapatos brilhantes e agora os "putos" vão para isto de ganga e camisa de seda por fora...). Tudo arranjadinho, gravatas impecáveis. Micro rissol numa mão e copo de Moscatel na outra...tudo impecável. As histórias de há anos, as memórias do próprio casamento, tudo rola em perfeita harmonia.
Depois de uma sessão de fotografia digital para mais tarde recordar, ou pura e simplesmente meter num qualquer blog online ou no picasa, alguém acelera o passo e " vá vá, vamos pá igreja!". Toda a gente nos carrinhos meticulosamente lavados e aspirados (confesso, os últimos 2 casamentos que fui, o carro ia como estava há um mês ou dois...mas lá está, isso sou eu), enfeitados com uma fita de tool (que depois perdura semanas a fio nas antenas.....quase como se fosse uma bandeirola para o Euro ), em fila indiana a 20 ou menos à hora, a prejudicar o livre transito de terceiros que não têm culpa absolutamente nenhuma do evento em curso, lá chegam à igreja para o acto em si. Sim, esta parte - o Casamento - devia ser o mais importante do dia todo.
Aqui começam os comentários, que nem as primeiras chuvas erosivas, que evidenciam já a camada frágil que rodeia todo o acontecimento: " Será que vai demorar muito ?" "Devia haver aqui uma roulote, sempre ia-mos bebendo um copo...". Eu juro-vos, que faço um esforço enorme para conter a minha vontade de rir, quem sabe equilibrada com uma vontade enorme de explicar ao senhor ou senhora que proferiu aquilo que está num CASAMENTO....Uma das etapas mais importantes na vida de uma pessoa, mas obviamente que isso agora não interessa nada (como diria uma senhora famosa que já não sei dela há algum tempo).
Comentários absorvidos, continuamos com o acto. E, expliquem-me lá uma coisa que se calhar não é assim tão simples....Porque raio é que os fotógrafos passam por cima de tudo e todos e tapam a visibilidade para o que estamos (convidados) ali a fazer que é testemunhar um Casamento?. Bom, ok...mais tarde recorda-se a 3,5€ a foto.....
No decorrer da consagração deste sacramento, é interessante (de um ponto de vista meramente analítico) observar a estratificação na distribuição das pessoas pela igreja:
1.ª Fila - Padrinhos e Madrinhas, que aparentam atenção mas na realidade apenas querem repetir o que o Padre os mandar dizer na hora certa para não parecer mal.
2.ª e 3.ªs Filas - As Matriarcas da família, poços de sabedoria e experiência de vida, algumas veteranas nestas andanças até por experiência própria ( ou não ) mas sempre com uma carga emocional "do camandro". As faces delas revelam expressões do que lhes vai na alma: " Ai que lindos" " Ah que bonito" " Ai tadinhos"...coisas dessas. Mas ouvir o que se está a passar ali e sentir as palavras e o caracteriza o momento em si....esquece.
4-ª Fila - A geração dos pais dos noivos. Nunca tive oportunidade de conhecer tantos modelos de relógios como na 4.ª fila de convidados numa igreja aquando de um casamento. Parece que fazem de propósito, sempre a exibir estas maquinas maravilha com um movimento ascendente do braço até o esticarem por completo de punho fechado, seguido de um flectir alongado e um ligeiro abanão no pulso para endireitar o dito e uma olhadela demorada para o mostrador acompanhada de um arregalar de olhos misturado com um franzir de sobrolho...
5.ª e posteriores - A "malta". Aqui fico sempre baralhado, pois até este momento estas santas pessoas (de extractos mais jovens) não davam a conhecer por pormenor nenhum que tinham vidas agitadas e agora de repente, converteram-se nuns verdadeiros empresários a meio de negócios importantes que sem eles não iriam a bom rumo de certeza! Pois entre os toques de telemóvel do Jamba e a chave do audi alugado pendurada no anelar da mão esquerda, os telefonemas são mais que muitos! E a frase ao atender é sempre a mesma: " Ehpá, agora tou no meio de um casamento, mas diz diz..."
Por ultimo - O largo da igreja. Onde estão os fumadores, os impacientes e as educadoras de infância com os putos mais renitentes. Claro, em conversas completamente desenquadradas do momento em curso e com uma barulheira infernal de guincharia e correria....
Ora bem, nesta parte o verniz ainda não estalou, mas tá baço. E eu largo uma questão simples: " Vocês estiveram MESMO no casamento?"
De repente alguém aparece com a cesta do arroz! E há um aproveitamento geral para agredir alguém de sorriso nos lábios em plena gritaria " vivóssss noivosssss"....Porra, já levaram com arroz nos olhos ??????
Findo o que deveria ser o auge deste dia, começa tudo a ir para os carros. Aqui a desorganização começa a ser evidente. Velhotas que correm, buzinas que se começam a ouvir...mas..e a foto de grupo ? Então ? Não se recorda o momento ? A única prova que mostra quem estava lá de facto ?. As expressões de avatar de msn sorridente dão lugar a algo que me transporta para o ambiente de um velório...irra! Mas sim, toda a gente se aglomera nas escadinhas e tira a bela da foto de grupo com um sorriso amarelado. Depois disto, finalmente vamos saciar a fome. O brinde pelo sacrifício de estar ali uns eternos 45 minutos à espera das direcções para o que importa mesmo! COPOS!!!!
E aqui sim, chegamos e somos recebidos com um cocktail volante. Enquanto eu peço um copo de água vi sair algumas 15 imperiais! E só estávamos 4 em frente ao barman...
Entretanto, para alguns 4 pratos de salada de polvo depois e jarro e meio de sangria (para mim confesso foi 3 copos de água fresca e umas tostas com paté), entramos no salão do banquete. Lá está o conjunto musical trio da Aldeia lá de cima que nunca ninguém ouviu falar ou um Dj de fim de semana que para ele Toy ou Daft Punk é tudo "musica com batida", que nos salpica o almoço ou jantar com sons entre o chilout e o romântico. E eu nunca percebi o termo "banquete", pois num prato do tamanho dos cá de casa, conseguem servir-me com um prato de peixe e um de carne e uma sobremesa que tudo junto não ocupava metade do prato.
Depois da refeição farta e de uns comentários exacerbados " ai que está tudo tão bom" (quando o arroz de tamboril é servido primeiro o arroz e depois o outro garçon coloca o tamboril à parte.....), abrem o bar para o café e digestivos! Ora, amigos se calhar não repararam, mas são DIGESTIVOS, e não são estas bebidas que vos vão encher o estômago! Uma são domingos deve beber-se lentamente e em porção pequena, não é meia garrafa ó " Jovem"....(isto é o que dá vontade de dizer...mas na prática começo a sorrir porque estou a ver as primeiras fissuras!!!)
Depois do bar, é o bufet! E parece que abriu a caça ao camarão! Ui, é ver quem consegue levar mais pratos nas mãos e enchelos o mais possível! Uma vez estive num casamento em que um convidado pura e simplesmente pegou numa travessa com lagosta e se sentou a degustala....
E é aqui amigos, é aqui que o verniz vai estalar....não, vai-se é partir tudo!!!!! Os camarões, o Toy e o Tony carreira misturados com o quim barreiros....e agora, a cereja do bolo:
Eu adoro, é DELICIOSO...ver aqueles senhores cheios de meias horas, fatinhos Armany, audis de aluguer, Nokias topo de gama.....que quando chegam a estas horas estão perfeitamente ESTALADOS! Fralda de Fora, barriga à mostra, gravata esquecida num canto qualquer do salão espezinhada e cheia de nódoas de cerveja e pingos de suco de camarão......Ehpá, isto é LINDO :D Mostra a essência das pessoas! Não concordam ?? Eu delicio-me, e se calhar por isso é que "curto" pouco num casamento e opto por estar sentadinho no meu canto e ver esta curva evolutiva da dignidade humana em poucas horas. Tenho de admirar esta gente! Após MESES de preparação e em alguns casos até empréstimos pessoais para cobrir a prenda, a roupa e o aluguer do carro, conseguem estalar o verniz praticamente de um segundo para o outro! Mas são Felizes!!! E isso para mim é o importante. Gosto de gente feliz! Claro que depois do casamento é que vamos saber se os noivos estão bem e tal (na altura que começam a chegar as fotos e eles regressam da lua de mel). Neste ponto é que eu acredito que muitos integrantes da Guest List se comecem a aperceber que estiveram num casamento.....
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